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O revivial dos 90's sem nenhum atraso
Published on January 8, 2005 By Alex Sladevicz In Music
Sabe aquela desculpazinha esfarrapada de "pode não ser a coisa mais original do mundo, mas..." que em geral é usada ou para encobrir uma cópia deslavada ou para descrever uma banda boa, mas sem originalidade? Quantas bandas, principalmente do Brasil, você conhece que copiam descaradamente uma outra banda e ainda assim são legais? E quantas tantas outras bandas, nessa paranóica busca pela originalidade a qualquer custo, acabam ficando chatas demais? Ou pretensiosas demais? Ou simplesmente inaudíveis?

Diz a lenda - e toda banda atualmente precisa de uma, o som apenas já não basta - que a banda The Delays se conheceu no indie club Thursday, de Southampton, em 1996, quando o DJ tocava Prince. Eram os únicos que sobravam na pista. Inicialmente um trio, a banda deixou de ser "uma cópia dos LA's tocada com a ferocidade dos Manics do início de carreira" aos "Byrds indies da Inglaterra" com a adição de Aaron Gilbert para os vocais e teclado. Aaron é irmão de Greg, guitarrista e também vocalista. Completam a escalação Colin Fox, no baixo, e Rowly, baterista.
Já de contrato assinado com a Rough Trade - a gravadora que todo artista ama -, lançaram no início de 2003 o primeiro single, "Near Than Heaven" - uma mistura de Cocteau Twins com Geneva -, mostrando o que seria o som do Delays: uma releitura do indie circa 1996, que por sua vez era o reflexo do pop 80's com guitarras distorcidas.

Outros singles aconteceram, a banda ralou nos palcos indies - abrindo para uma verdadeira seleção de 2003: Sleepy Jackson, Thrills, McAlmont & Butler, Tim Burguess e The Coral -, e, no início de abril de 2004, saiu o tão esperado full lenght "Faded Seaside Glamour".

"Wanderlust" abre o disco com aqueles tecladinhos de deixar indies 'fofos' arrepiados e, logo em seguida, as guitarras e o vocal gélido nos faz pensar, por mais absurdo que possa parecer, que Björk teve um filho com Brett Anderson, e o pimpolho quis montar uma banda que agradasse um pouco cada lado da família. Li em algum lugarindie que essa música é mais Cocteau Twins com Geneva, mas prefiro a minha descrição. Mal dá pra acreditar que são dois caras nos vocais. O CD avança e chega "Nearer Than Heaven", sim, a do primeiro single. Agora o mix Geneva-Cocteau se faz de fato presente. Will Freeman, o cara de "Um Grande Garoto", que me desculpe, mas é música para se cantar o refrão de olhos fechados. Fazendo air guitar também, no caso de gente exagerada. Se você cantou os hitindies de "Further", do Geneva, também vai cantar essa. Eu garanto.

"Long Time Coming" começa com aqueles barulhinhos à la Sigur Rós, mas vai ganhando formas daquilo que se chamava de indie na Inglaterra no começo dos anos 90. Guitarras com efeito lá no fundo, um balanço pra ficar dançante e vocal bichesco meio etéreo. Uma pérola. Ou mais uma. "Bedroom Scene", o nome já entrega, é mais um mix do pop da turma 80's com as guitarras noventistas, mas aqui o resultado é irregular. O vocal não bateu com os efeitos.

"No End" parece não ter fim. De tão chata. Uma daquelas baladinhas que tendem a valorizar o vocalista, parece que vai crescer no meio, mas é abortada e volta a ser uma baladinha. Seria ideal para uma trilha sonora da Disney, principalmente da Branca de Neve ou da Bela Adormecida.

"You Wear The Sun", bom título, é apenas um britpop 'fofinho'. Pulemos para a próxima. E, ah!, a próxima é simplesmente "Hey Girl", que também era um single, e parece a resposta britpop para "Turn! Turn! Turn!". Uma das melhores do disco. (O Belle & Nefastian toca essa dos Byrds em alguns shows, e você pode encontrar umas versões razoáveis disso por aí. Claro que eu sei que a música é do Pete Seeger, tanso!)

"Stay Where You Are" é um sub-Stone Roses. Mais botão foward e chegamos em "There's Water Here", e aqui, mais uma vez, nosso imaginário Björk Jr usa o vozeirão herdado dos pais em uma música que cairia bem no primeiro do Suede, principalmente naquelas mais lentas. Mas não é Björk Jr, são novamente os irmãos Gilbert derretendo corações indies com seus vocais gélidos. "Satellites Lost" mereceria um copy-paste de "There's Water Here", e, quando o disco ameaça ficar chatinho, vem a guitarra matadora no começo de "One Night Away", mais uma 'byrdpop'.

O disco fecha com "On", que bem poderia ser "Off". Uma espécie de mix Linoleum - KC & The Sunshine Band. O disco acaba em grande estilo, e o balanço final é de que os bons monentos superam os maus.

The Delays, e seu revival de 1996 - que promete estourar este ano, admite não ser a mais original das bandas, até mesmo estar longe disso. Voltando lá em cima, muitas bandas usam a frase "pode não ser a coisa mais original do mundo, mas..." como desculpa. No caso do Delays, isso é um trunfo.


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